SALA DE AULA - Língua Portuguesa
Já passou o 1º bimestre. Tive muita dificuldade para trabalhar com esses alunos. O que foi pior: numa das classes, um aluno com problemas sérios de saúde (toma um monte de medicamentos – um dos horários da medicação é sob a responsabilidade da coordenadora).
As atividades que valiam nota:
Falhei na escolha – pedi produção de textos, mas no geral, foi impossível corrigi-las como tarefa para avaliação.
Dar visto no caderno como muitos professores fazem – falhei também. Numa média de 37 alunos – a aula de 50 minutos, se eu desconto o tempo da chamada, eu teria que só ficar por conta da tarefa de casa, que aliás – é, no geral, também extremamente complicada: há textos bem claros, bem feitos, com erros bem feitos até – eu começo corrigindo-os - tenho que saber qual a necessidade de cada aluno, por isso preciso saber onde erram. Desisto! Cada um tem erros diferentes e eu não consigo fazer isso em classe – enquanto vejo um cadernoatendo um aluno, a tarefa que dei aos outros não está sendo feita – eles fazem outras coisas – jogam papel, falam alto, brincam ou brigam? - não sei. Eu paro, levanto. Vou negociar com a classe – encerro os vistos, mudo a atividade! Eles estavam trabalhando num texto xerocado, que eu pensei que fosse atrativo. Não foi.
Encerro os vistos e tento explicar a tarefa de novo ( achei que havia sido entendida) Não quero gritar – caminho pela classe e tento falar com os alunos. Uns dez falam ao mesmo tempo – não consigo entender o que falam - alguns mais impacientes gritam: SILÊNCIO, GENTE!! o professor quer dar aula!! - eu me extresso mais – já estou rouca. Eu me pergunto no meu silêncio – por que esses meninos que têm desvio comportamentais não são assistidos por um profissional especializado? Eu sou professora de língua portuguesa apenas, além do meu conhecimento de mundo e experiência de mãe de 3 filhos, que nesse momento tudo isso vale-me NADA. Soa o sinal, termina a aula, e eu saio com uma única certeza: minha incompetência, minha impotência. Tento dormir nessa noite, mas prefiro pensar numa nova maneira de trabalhar com eles. Alguém já me disse – com eles, só tem um jeito: trabalha com happy! Mas não seria um novo appartheid? Quanta coisa bonita a língua escrita traz, mas eles precisam ou ler ou me ouvir! Queria tanto falar com eles, despertar-lhes o gosto pelas letras! Eles precisam me ouvir. E, os que desejam, me olham, mas não conseguem me ouvir! - uma minoria, eu sei. Preciso da voz e não posso gritar, mas gritei, sim! Várias vezes. Μe lembrei do apóstolo Paulo: faço coisas que não quero fazer e não faço as que quero. Peço ajuda a outros professores – eles dizem: faça na sua medida, senão enlouquece – danem-se os que nada querem.
[...] alguns professores contêm a indisciplina colocando textos na lousa para cópia – tentei ver como isso funciona – não funciona! Eles copiam tudo errado – emendado, misturado – pra quê?-
[..] hoje ao entrar na classe (tentei entrar na 6 Z e um aluno (aquele que toma medicamentos) fechava a porta (pelo lado de dentro) – voltei, pedi auxílio para a coordenadora. (eles mantêm um "relativo respeito à coordenadora”, a qual "dana com eles”- cinco minutos após – eis tudo de novo. [..]
[...]
Wanelli, 15 anos, 6ª Y. Desde o início das aulas (fevereiro, ela não se ambienta, não participa, rompe com as regras gerais, tais como uso de celular, mp3, não traz livro nem cadernos e apesar da falsa resistência, mostra sinais de que adora ser convidada para sair. Nível cogntivo Eu mesma já a convidei umas 4 vezes. Tem mais: o aluno que sai da classe a convite do professor, deve sair acompanhado de uma tarefa. Com ela isso não funciona. Nessa referida aula, eu havia levado um estojo com material pra ser usado pelos alunos e contei que ao apontar os lápis para eles, usei a serragem de algumas pontas, fiz uma obra de arte num sulfite Mostrei-a à classe e tive a ideia de oferecê-la à Wanelli. Pra minha suspresa, a classe aplaudiu. Ela, meio sem-jeito, agradeceu. Não tardou outra surpresa: Wanelli participou da atividade proposta em seguida, e saiu muito bem – letra bonita, tarefa em ordem, bem feita!
[...] - outra surpresa:
Na próxima aula, encontro a mesma aluna no corredor: - professora, me desculpa!? - perdi o papel que você me deu, me desculpa? Quando entrei na classe, ei-la de novo com todos os atributos do aluno desinteressado: conversando alto, rindo, debochando e não participando da aula, etc. , enquanto uma colega lia – numa aula de leitura! Tudo voltou ao NOMAL. Fico imaginando se ela perdeu o papel, ou se isso foi uma farsa comigo!
[...]
nas 6ªs X, Y, Z e Za. (período matutino).Troquei a aula por livros da biblioteca. Coloquei 50 livros numa caixa e levei para a classe. A metade (mais ou menos) da classe procurava os mais fininhos, mesmo Branca de Neve, 3 Porquinhos, e semelhantes. A caixa de livros sumiu, o encarregado da biblioteca diz que pediu a uns alunos que o ajudasse a colocar a caixa em cima de um armário e não sabe porque desapareceu. Do nada, essa caixa dias depois apareceu em um outro local, num almoxarifado de materiais diversos. [...]
na 6ª Zc:
Hoje um criei material comunitário. Um estojo com tudo que eles precisam - desapareceu durante a aula, Neste mesmo dia, pedi à biblioteca 11 livros para completar o número necessário para uso da classe. Os livros deveriam ser devolvidos à mesa 10 minutos antes do término da aula – faltaram 5. Depois de muita insistência, apareceram 4 e o último só apareceu hoje, com o argumento de que colocado dentro da bolsa do aluno.
[...]
Na 6ª Zc. Escolhi um texto engraçado, pequeno, adequado à faixa etária. O objetivo da aula era conceituar interlocutores, com quem o texto dialoga e estabelecer a diferença entre autor e narrador.
Estava afônica, então, escrevi o texto na lousa – foi o cáos. Estava na espectativa fazer uma leitura com os alunos, estimular dicção, evidenciar a pontuação e entonação. Consegui apenas estresse. Operação falhou. Muito barulho/muita indisciplina. Acabei prendendo o cartão de dois alunos. Uma classe muito difícil: dois alunos com deficiência auditiva completa, que são assistidos, na classe, por pedagoga especializ ano ada. Mas, há mais ou menos uns quinze alunos com nível cognitivo relativo ao 3º do Fundamental I.
Alguns mal sabem escrever o nome. Esses alunos trazem problemas sérios para a sala de aula, auto-estima muito baixa. Preciso descobrir algo que eles se interessem.
- Estou pensando em elaborar, para cobrir a defasagem, dois tipos de apostilas . A questão é - como administrar dois conteúdos diferentes num mesmo ambiente EXTREMAMENTE complicado. Vou pensar.. Aceito sugestões. [...] lembrando:
[.. 13/05/11] .. Kayil é um dos alunos mais difíceis da 6ªZb. Ele bagunça, fala alto, falta muito, não participa, não faz nada nas provas, enfim - problema para todos os professores. Mas, numa das aulas anteriores, eu vi que ele desenhava uma figura do nosso livro (português) enquanto os outros trabalhavam - fui até sua carteira, e surpreendi-me com um bom desenho - uma luz no fim do túnel, afinal! - claro, que ele merecia elogios!
[...] Assim fiz. Levei duas ilustrações xerocadas. Dei uma ao Kayil e outra a um outro aluno muito parecido com ele. O que aconteceu? Apesar da óbvia reclamação de muitos, houve ambiente adequado para eu dar a aula, pois os dois superproblemáticos estavam entretidos, a classe aproveitou, houve até dizeres tais como - "nossa, agora estou gostando de português!" - claro, eles não me ouviam!! E o desenho do Kayil ficou maravilhoso! - Era a figura de Zeus aborrecido. Vou fazer um painel e colocar em garrafais o seu nome. Nada como um dia atrás do outro! Eu só queria um caminho para aumentar-lhe a auto-estima. Vou tentar! Ah, .. o outro desenho também foi bom, mas um assunto de cada vez.